O DISCURSO DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NO LDP: SENTIDOS DE LÍNGUA E DE SUJEITO LINGUÍSTICO

Autores

  • Louise Pereira Medeiros

Resumo

Os Livros didáticos são lugares de produção de sentidos, desta forma, são lugares que se prestam como excelente observatório do funcionamento do simbólico, já que, sendo materialidade concreta do discurso, pode-se compreender, através de sua análise, como os discursos se realizam, se formulam e se “comportam”. Para estarem na ordem do discurso pedagógico, então, os Livros Didáticos precisam de uma avaliação positiva do PNLD, que por sua vez, analisam se estes estão “emoldurados” às orientações oferecidas pelo Governo – dadas através dos documentos oficiais tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Sendo assim, os discursos disseminados nos LDs tendem a reproduzir sentidos advindos de lugares previamente ocupados pelos sentidos oriundos do discurso oficial, filiando-se, assim, a uma mesma Formação Discursiva. Neste contexto, a presente pesquisa teve como objetivo geral investigar de que maneira o discurso oficial da diversidade linguística brasileira, que é perpassado pelo discurso ético, se materializa em um livro didático de Língua Portuguesa destinado ao ensino fundamental. Objetivou-se, de modo específico, analisar efeitos de sentidos sobre a língua e o sujeito linguístico (usuário da língua) que o discurso do LDP produz. O corpus da pesquisa é formado por questões de exercícios do LDP e por suas respectivas respostas, oferecidas ao professor como sugestão. Encontram-se em uma seção específica de cada volume, destinada ao conteúdo Variação Linguística – tema propício à discussão da relação do sujeito com a língua. Para realização da análise de tal corpus, estabeleceu-se como base teórico-analítica conceitos advindos da Análise de Discurso Francesa, por proporcionarem a construção de um dispositivo de análise capaz de desvendar o funcionamento do discurso do LDP, revelando os sentidos produzidos, os quais se apresentavam naturalizados. A partir da análise realizada, percebeu-se que o discurso do LDP, que se sustenta na rede de filiação de sentidos do discurso oficial, inscrevendo-se na mesma FD (da diversidade), mostra-se atravessado pelos dizeres advindos de outra FD, a normativa. O discurso da diversidade/discurso ético prevalece, todavia, o discurso normativo faz eco em alguns trechos do LDP, denunciando que o sentido e o sujeito são ideologicamente determinados, passíveis de dispersão e, por vezes, contraditórios. O seu dizer é trabalhado por uma memória, que reaviva dizeres esquecidos do interdiscurso, fazendo furo na língua.

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Publicado

2015-02-24