TEMPORALIZAÇÕES NA/DA PANDEMIA: A PRODUÇÃO DE SENTIDOS COMO UM MARCO LINGUÍSTICO E HISTÓRICO

Autores

  • Gabriele Cristine Carvalho
  • Nadia Dolores Fernandes Biavati

Resumo

Neste artigo, analisamos o funcionamento das temporalizações evocadas pelas formações nominais “quarentena” e “novo normal” durante a pandemia do SARS-CoV-2. À luz dos pressupostos teóricos da Semântica da Enunciação, advogamos que o conceito de temporalidade, que se baseia na sucessão linear dos acontecimentos, é insuficiente para analisar os enunciados que discursivizam a realidade. Nossos dizeres constroem e reconstroem sentidos que se tornam pertinentes na emergência do enunciar quando entram em relação com referenciais, isto é, a ancoragem da significação baseada no funcionamento histórico-social da língua. A análise das formações nominais “quarentena” e “novo normal” mostram que outros referenciais, como os de cuidado, sofrimento, desigualdade, mudança e comportamento cruzam-se com o referencial de tempo evocado por essas formas linguísticas, remetendo não a temporalidades, mas a temporalizações.

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COVID-19: uma pandemia sob o olhar das ciências da linguagem